Há um ano, a atriz Robin Wright denunciou a plataforma Netflix por pagar a ela um salário menor que seu colega Kevin Spacey, ambos coprotagonistas da série House of Cards.
Desde então, assim como ela, dezenas de atrizes, produtoras, diretoras, etc. começaram a falar publicamente sobre a desigualdade de gênero que existe na indústria.
A revista Forbes já publicou a lista dos atores e das atrizes mais bem pagos de Hollywood. O intérprete masculino mais bem pago, Dwayne Johnson, ganhou um total de 89,4 milhões de dólares durante este ano. A intérprete feminina, Scarlett Johansson, 56 milhões.
No entanto, há outros seis atores que os separam nessa lista. Isso significa que a atriz mais bem paga da indústria cinematográfica norte-americana recebeu este ano quase o mesmo montante que o sexto ator mais bem pago.
A discriminação presente nos salários é, portanto, evidente. Além disso, essa desigualdade de gênero não é apenas monetária.
Na Espanha, um estudo publicado por Aisge e a União de Atores e Atrizes informou que um em cada três papéis é destinado a uma mulher. Além disso, também verificou que apenas 34% dos papéis de protagonistas são de mulheres.
O mesmo estudo descreve que, em grande medida, a explicação para esses dados está na variável da idade. Conforme a mulher fica mais velha, a possibilidade de ter um papel de protagonista vai diminuindo.
De todos os filmes analisados, apenas 24% dos papéis de protagonistas com mais de 45 anos foram concedidos a mulheres. Esse número caiu para 20% nos papéis com mais de 64 anos.
O papel das mulheres no cinema
Desde a sua origem, o cinema evoluiu com a história. Em cada período, os filmes refletiam as crenças e a realidade social daquela época, e com isso, a posição da mulher na própria sociedade.
Os movimentos feministas e as múltiplas reivindicações pela igualdade da mulher em todos os âmbitos da vida foram mudando a forma como a mulher é refletida no cinema.
Um claro exemplo disso está na comparação dos primeiros filmes que o estúdio Walt Disney realizou com os que produz atualmente. O papel que Ariel, Branca de Neve e Cinderela assumem nos filmes contrasta enormemente com o de Elsa ou Moana.
Nessas últimas produções, o papel feminino deixa de ser um complemento do homem. Seu arco de desenvolvimento deixa de girar ao redor de encontrar seu “príncipe ideal”, e se centra em sua própria viagem de empoderamento e de crescimento pessoal.
O teste de Bechdel
O teste de Bechdel surgiu pela primeira vez em 1985 na história em quadrinhos cômica The Rule, escrita por Alison Bechdel. Baseia-se na ideia de que para evitar a desigualdade de gênero, um filme, uma série, um quadrinho ou outro meio deve cumprir, pelo menos, três requisitos:
- Devem aparecer pelo menos dois personagens femininos.
- Essas duas personagens devem conversar entre si em algum momento.
- A conversa que mantêm não pode estar relacionada a um homem.
O último requisito não deve se limitar simplesmente a temas românticos. A conversa não deve, portanto, tratar sobre o gênero masculino, seja sobre um marido, um irmão, um pai ou um vizinho.
Segundo a página Bechdel Test Movie List, em 2015, por volta de 61% de quase 130 análises passavam no teste. Apesar de tudo isso, o teste de Bechdel nem sempre é sinônimo de igualdade.
Existem filmes que cumprem os três requisitos, mas que, por seu argumento, não podem ser considerados igualitários. Além disso, também pode ocorrer o contrário, como acontece no caso de ‘Gravidade’, ganhador de sete Oscars.
Filmes que passam/não passam no teste de Bechdel
- Passam: Mad Max, Animais fantásticos e onde habitam, O Rei Leão (2019), Argo, A Viagem de Chihiro, Filhos da Esperança, Roma, Mustang, Azul é a cor mais quente, Tudo sobre minha mãe, Thelma & Louise, Volver.
- Não passam: O lobo de Wall Street, A Princesa Prometida, O Senhor dos Anéis, Star Wars (a trilogia original), Avatar, Cidadão Kane, Os Vingadores, Piratas do Caribe, O Poderoso Chefão.
Séries que passam/não passam no teste de Bechdel
- Passam: Friends, Game of Thrones, Orange is the New Black, Lost, The Good Wife, Supergatas, O Conto da Aia, Unbreakable Kimmy Schmidt, Shameless, Parks and Recreation, Veep.
- Não passam: Narcos, Boardwalk Empire, Breaking Bad, Law & Order, Família Soprano, Gossip Girl, the Wire.
O cinema é mais uma das indústrias que apresentam desigualdade de gênero. Como foi possível notar, a idade exerce uma grande influência na forma como as atrizes são tratadas, mas essa variável não é tão determinante no caso dos atores.
Nesse sentido, o teste de Bechdel foi criado há quase 35 anos com o objetivo de estabelecer alguns requisitos que atuassem como indicadores de igualdade de gênero nos filmes.
No entanto, durante os últimos anos, têm sido debatidas a atualização e a eficácia desse método, além da questão de se esses requisitos devem evoluir para dar respostas ao cinema da sociedade atual.
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br/desigualdade-de-genero-teste-de-bechdel